ESCRITOR ORIENTAL
Tïtulo: Never Let Me Go
Título no Brasil: Não Me Abandone Jamais
Autor: Kazuo Ishiguro
Editora: Vintage Books
Ano: 2005
Páginas: 288
Às vezes nos deparamos com uma leitura tão devagar quase parando que não nos envolve, assim como aconteceu com o livro da minha resenha anterior. Mas às vezes, uma leitura lenta pode te segurar quando você menos espera.
Never Let Me Go é assim. Um livro melancólico e monótono que incrivelmente não foi tedioso. Minto, algumas vezes foi tedioso sim, mas eu queria, precisava saber o que aconteceria com Kathy, Tommy e Ruth.
Acredito que a "jogada de mestre" de Ishiguro foi a forma narrativa. Não estou me referindo à 1° pessoa que muitas vezes limita nossa interação com uma obra em totalidade. Não, o que percebi é que o autor, através de Kathy, "puxa" o leitor para dentro do enredo e sem querer querendo nos tornamos um personagem também.
Talvez eu estivesse apenas "viajando na maionese", mas toda vez que Kathy dizia: "Não sei como é onde você cresceu, mas em Hailsham era assim, etc etc"; ou então ela dizia algo como: "Você sabe como são os procedimentos, etc, etc"; eu me sentia um deles e era comigo que ela estava conversando, olho-no-olho, face-a-face, tomando um cafezinho, ou nesse caso chá, já que a história se passa na Inglaterra.
Quanto mais eu me aproximava do fim, mais eu me inquietava. O pior de tudo é que eu vi o filme antes de acabar o livro (não aconselho muito) e portanto, eu sabia o que viria. Mesmo assim não pude parar de questionar: Por que eles não se rebelam? Por que não lutam contra esse sistema? Por que eles não fazem nada para impedir esse destino cruel (pelo menos tentar)? Por quê? Por quê?
Sou o que está machucado
Sou o ferido
Sou o pobre
Tenho sido usado
(Song for the broken - BarlowGirl)
E quando finalmente Kathy e Tommy compreendem exatamente o que, quem eles são, minha vontade foi chorar. Chorar por aqueles que não têm chance de escolher, não têm chance de decidir, não têm chance de mudar e não podem transformar o mundo ao seu redor. Seja na ficção ou na realidade.
Lembrei de um livro que resenhei no Desafio Literário 2011, A Titanium Smile. As pessoas nesse livro tinham suas memórias apagadas exatamente pelo mesmo motivo que Kathy e os outros existiam na Inglaterra, mas lá esse procedimento era necessário para que os "clones" não se rebelassem. Em Never Let Me Go é diferente, eles sabem exatamente o que são e para que existem e estão conformados com isso.
"(...) Vi um mundo novo chegando rapidamente. Mais científico, eficiente, sim. Mais curas para doenças antigas. Muito bom, mas um mundo severo, cruel. Vi uma garotinha, (...) segurando em seu peito o bondoso mundo antigo, um que ela sabia em seu coração que não poderia permanecer, e ela o estava segurando e implorando para não abandoná-la jamais." (Tradução livre. Pág. 272. Grifo meu)
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