21 de novembro de 2012

Blogagem Coletiva Antiestupro



MARCAS
Olhou ao redor à procura de um refúgio, de um alívio e não encontrou. 
O que estava mesmo fazendo ali? Por que viera até aquele lugar?
Sentada à sua frente, uma senhora com o rosto machucado olhou para ela. Havia uma espécie de cumplicidade dolorosa naquele olhar. Desviou os olhos para as próprias mãos que retorciam-se nervosamente.
Seu corpo inteiro ainda dolorido e machucado fazia com que seu desconforto piorasse naquele banco duro e frio.  
Duro e frio como agora estava seu coração.
Por que estava ali?
Sua alma angustiada gritava. 
Teve medo. Mais medo do que antes. Acreditariam nela? O que diria a eles? O que fariam? O que aconteceria depois?
Fechou os olhos.
A dor que a impulsionara estava ali bem dentro dela. E o medo por perto, rondando e ameaçando como uma serpente pronta a atacar.
A dor, o medo e as lágrimas.
Queria sair correndo dali. Não estava suportando mais. Queria fugir, esconder-se de tudo e de todos, principalmente da vergonha marcada em seu corpo. Como conseguiria?
Aquela dor dentro dela, perseguindo-a. 
Por mais longe que fosse, a dor permaneceria, e por mais distante, o medo sempre a espreitaria com seus olhos vorazes e impiedosos.
Mas por que viera até ali?
O medo perguntando, querendo uma oportunidade para fazê-la retroceder. E seu corpo de mulher ainda menina dilacerado implorando-lhe que fosse forte, que fosse até o fim.
E a dor…
O que tinha feito de errado?
O medo aproximando-se…
A culpa estaria em si própria?
O medo aproximando-se…
Seu erro foi amar? Amar com suas forças, com sua vida, com todo seu coração e sua alma? 
Ela acreditou no amor dele. Acreditou que estava segura em seus braços e que com ele jamais se machucaria.
Porém, o cheiro um dia amado, agora estava em seu corpo enojando-a. As mãos antes cheias de carinho, agora só lembravam a dor. A boca dele, o corpo dele contra o seu, forçando-a.
Sua tentativa. Sua luta. Sua derrota.
O corpo dele sobre o seu, destruindo-a, depositando dentro dela a dor dilacerante sem se importar com suas lágrimas, seus apelos desesperados, seus sonhos, sua vida, seu amor.
Machucada. Humilhada. Profanada. Violada.
Desejou a morte daquela dor que resistiu, que persistiu, que a marcou com suas brasas. 
As marcas de sua condição como mulher. As marcas do estigma. As marcas da vergonha. As marcas da humilhação sofrida. As marcas da violência.
“Maria dos Santos.”
A dor que a levou até ali não a faria voltar atrás.
Abriu os olhos ao som de seu nome e encaminhou-se à funcionária que o pronunciara. A mulher pediu que ela falasse. O medo a olhou e ela vacilou. 
Não sabia como dizer. A funcionária olhou dentro de seus olhos encorajando-a.
Ela respirou fundo enquanto, dentro de si, tentou juntar os pedaços de sua alma estilhaçada. 
O medo afastou-se lentamente.
Maria denunciou.
AMG. São Luís, abril de 2004.

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Esse post faz parte da Blogagem Coletiva "Vá se arrumar que hoje vou lhe usar". No dia 25 de novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, haverá um post de fechamento, com todos os links que participaram. Ainda dá tempo. Participe e divulgue.

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Este post faz parte da Blogagem Coletiva Antiestupro "Vá se arrumar que hoje vou lhe usar" promovido pelo Com tudo o que sou. No dia 25 de novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, haverá um post de fechamento com todos os links que participaram. Participe e divulgue!
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